
“Sou de Pouso Alegre, solteira, e o meu grande problema na vida � a solid�o. Vou ter que sentir isso sempre ou vou encontrar um companheiro?”
Joana Athaide
A cultura americana expressa claramente nos filmes de Hollywood sempre enfatizou que a felicidade s� pode ser alcan�ada atrav�s do casamento. Quem n�o se lembra dos finais dos filmes rom�nticos, quando o casal se afasta abra�ados e “foram felizes para sempre”? A mensagem subliminar, falsa, perigosa e cruel � que voc� s� se realiza por interm�dio de outra pessoa. E essa ideia se internalizou em n�s, principalmente nas mulheres, de tal forma que toda nossa energia vital n�o � canalizada para aprendermos a ser felizes, mas para arranjar um(a) namorado(a) e se casar.
Da� os sentimentos angustiantes de solid�o, do medo de ficar s�. O que d�i e provoca a sensa��o de desamparo n�o � o fato de n�o ter um companheiro, mas a cren�a alimentada em toda a sua vida de que ela s� ser� feliz quando tiver algu�m e que � justo e natural sofrer por n�o ter ainda este algu�m.
H� uma profunda diferen�a entre “estar s�” e “solid�o”. O estar s� � um fato objetivo. Cada um de n�s, em alguns momentos ou em alguma etapa da vida, pode estar s�. A singularidade de cada pessoa, a unicidade do indiv�duo atestam “o s�” como condi��o b�sica e fundamental do homem. E � a partir deste “s�” que nos unimos �s outras pessoas. Tentar acabar com esse “vazio” natural do ser humano a partir de outra pessoa � a raiz do controle e das frustra��es nos relacionamentos.
In�meras vezes tenho ouvido frases que denotam esta cren�a: “Ele n�o me fez feliz”, “Vou fazer voc� feliz”. Ningu�m pode fazer um outro feliz. Ou, em outras palavras, ningu�m preenche as falhas da outra pessoa. A solid�o, ao contr�rio do estar s� ou da sensa��o natural de ser s�, � um estado natural doloroso de mendic�ncia, de car�ncia, de falta, de necessidade. � a resist�ncia dolorosa a uma exist�ncia aut�noma, na qual eu desejo o outro, mas n�o tenho uma necessidade obsessiva do outro. A car�ncia afetiva, fruto do medo do abandono, � a raiz da solid�o.
Quais as consequ�ncias da solid�o na nossa vida? A procura incessante do outro como fator de felicidade nos leva a escolher “qualquer” pessoa para nos preencher. Essa m� escolha, feita a qualquer pre�o, al�m de n�o nos fazer felizes, tende ao t�rmino, e quando isso ocorre nos remete a uma solid�o (car�ncia) maior ainda do que antes do namoro ou casamento. As rela��es entre pessoas que t�m solid�o s�o dolorosas e frustrantes porque � o encontro de “dois mendigos”. Al�m da explora��o m�tua, esses relacionamentos se caracterizam pelo ci�me, apego excessivo, controle, posse, cobran�a do amor do outro.
Na verdade, a solid�o � uma incapacidade de amar. No amor, procuramos algu�m para partilhar nosso afeto, nossa alegria, nossa constru��o de vida. Uma pessoa amorosa, mesmo que n�o esteja casada, leva uma vida rica e sente necessidade de alargar, cada vez mais, atrav�s das amizades, do crescimento, de sua contribui��o do mundo. A autoestima de quem tem muito amor no cora��o n�o � medida pelo amor do outro. “O seu valor vem da sua capacidade de amar, e n�o pelo fato de ser amada.”
Quanto mais pobre for a nossa vida psicol�gica, mais solid�o sentiremos, mesmo se estivermos com algu�m. E quanto mais rica, mais amor e menos solid�o, mesmo sozinhos. Essa insist�ncia social de dar muito valor ao fato de estarmos casados ou namorando nos induz a um desleixo no valor de estarmos felizes. Talvez esse seja o motivo principal porque a maioria dos relacionamentos se deteriora. As pessoas, ao se encontrar, param de crescer emocionalmente, de desenvolver o pr�prio potencial, de incrementar o autoamor, de procurar, enfim, os seus caminhos pr�prios para a felicidade.
Trocar de marido, de mulher, de namorado n�o vai adiantar nada enquanto acreditarmos que algu�m pode nos fazer felizes ou acreditar que ser s� � sin�nimo de tristeza e fracasso. Ser feliz � algo pessoal, inalien�vel e intransfer�vel. � uma batalha individual. E quando algu�m consegue ser feliz, ainda que s�, � maravilhoso querer algu�m para compartilhar com ele da sua luz e alegria.